quando todo livro vira tarefa
e por que isso sufoca sua criatividade sem você perceber
Teve uma época que eu lia livro atrás de livro…
Massa né? Sim, é muito bom.
O problema é que nada mudava.
Me sentia inteligente, motivado, com mil ideias... até que chegava a hora de criar, e o vazio voltava.
O que eu não percebia é que o problema não era o conteúdo, era o meu jeito de consumir.
A vida toda eu desprezei livros de autoajuda. Depois que cresci passei a consumir loucamente todo tipo.
E, bicho, a verdade é que foi bastante útil.
Ela me deu impulso quando eu tava no fundo do poço, me fez acreditar que dava pra mudar de vida. Mas, com o tempo, eu comecei a perceber um negócio estranho: quanto mais eu lia, mais eu sentia que tava ficando parado.
É como se eu tivesse andando numa esteira de crescimento pessoal: fazendo esforço, mas sem sair do lugar.
Hoje eu entendo por quê:
Eu confundia absorção com transformação.
Eu achava que só entender já era suficiente pra mudar.
Eu buscava nos livros uma resposta que só vem da prática.
E o pior: eu levei essa mentalidade até pros livros que não tinham essa função.
A verdade é que a autoajuda te ensina a buscar o uso prático de tudo.
Mas isso, sem filtro, é uma armadilha.
Vou dizer 3 motivos que explicam por que isso te trava:
1. Você virou um caçador de lições
Cada livro vira uma missão: encontrar o "segredo". A frase que vai virar post. O insight que vai desbloquear a vida.
Mas quando tudo precisa ter aplicação direta, você perde a capacidade de se deixar tocar por uma ideia só pela ideia.
Você não lê mais pra expandir. Lê pra usar.
E isso é sufocante.
2. Você reduz obras densas a frases de motivação
"Macbeth mostra como a ambição pode ser perigosa."
Pronto. Acabou Shakespeare. Você transformou um épico sobre poder, culpa e loucura em um slide de PowerPoint com um emoji de foguinho no final.
Quando tudo precisa ser traduzido em “dica prática”, a profundidade desaparece.
3. Você acha que não vale a pena se algo não for aplicável
Acha que ler ficção é perda de tempo porque não tem uma fórmula de sucesso escondida ali.
Mas sabe o que pode ter? Uma lente sobre a existência humana. Uma provocação. Uma angústia que talvez não resolva um problema, mas muda teu jeito de ver o mundo.
E isso, meu amigo, é muito mais transformador do que checklist de produtividade.
Se tu se reconheceu em algum desses pontos... calma.
Tem jeito de sair desse ciclo e reencontrar o prazer de aprender por aprender e de criar por intuição, não por obrigação.
A saída é parar de se perguntar “o que eu posso tirar disso?” e começar a perguntar: “o que isso me provoca?”
Isso exige:
Mudar o ritmo da leitura
Anotar mais perguntas do que respostas
Abandonar a pressa de transformar tudo em conteúdo
Quer saber o que fez diferença pra mim?
Criar um sistema pra guardar e conectar ideias sem a obsessão de ser útil o tempo todo.
Foi quando nasceu meu Ecossistema Criativo.
Ali, eu misturo anotações de autoajuda, poesia, teologia, livros técnicos, frases soltas, sonhos anotados e insights de filmes.
Tudo bem bagunçado. Tudo bem vivo.
Claro, você que me acompanha há mais tempo sabe que eu uso o Obsidian como segundo cérebro e muitas dessa bagunças são organizadas nele.
E o mais curioso é que as melhores ideias de conteúdo que eu já tive nasceram dessas conexões improváveis que eu fiz usando o Obsidian.
Como algumas conexões que eu faço usando esse gráfico:
Eu entendi que nem todo livro precisa me dar um plano de ação.
Às vezes, ele só precisa bagunçar um pouco minha visão de mundo. E isso já é mais do que suficiente.
A dica prática de hoje é:
Crie uma nota no seu segundo cérebro chamada “Ideias sem uso”.
Toda vez que você ler algo que te deixa desconfortável, sem saber o que fazer com aquilo... anota lá.
Esse é o tipo de desconforto que fertiliza terreno criativo.
E, se tu quiser transformar essas ideias esquecidas em projetos vivos, o lugar pra fazer isso é aqui:
Qual tema usa no Obsidian ?
Agora você fez assim 🤯 com a cabeça de quem lê sem parar