Ontem vi um texto da
no Substack que mencionava “a maldição do conhecimento”. Até então eu não conhecia o conceito, mas sem saber já tinha passado por isso algumas vezes na vida e encontrado alguns meios de driblar.Uma dessas vezes foi em 2015. Eu tava fazendo o projeto de um coworking pra um amigo. Levei desenhos impecáveis, abri as imagens na TV gigante que tinha lá e soltei: “Aqui a gente aplicou um layout open plan, fluxo radial e painéis acústicos com NRC 0,85.”
Meu amigo na hora disse: “Peraí, pô: isso quer dizer que o barulho vai atrapalhar ou não?”
Parecia óbvio — pra mim. Respirei, puxei uma caneta e rabisquei ondas numa folha: “Imagina o ruído como bolhas de sabão. Esses painéis estouram as bolhas antes de elas baterem na parede. Resultado: menos eco, menos barulho.”
Foi aí que encarei de frente o vilão invisível que pega qualquer especialista em algum momento da vida: a maldição do conhecimento.
Dizem que você jamais vai esquecer como andar de bicicleta — e é aí que mora o perigo. Quando algo vira rotina na sua cabeça, o cérebro apaga o estado de ignorância que veio antes. Esse “apagão” poupa energia, mas sabota cada explicação que você tenta dar.
A “maldição” não trava só professor; ela atrapalha qualquer criador que precisa transformar insight em texto, vídeo ou projeto. Se o leitor não entende rápido, fecha a aba. Se o cliente não sente que entendeu, pula pro concorrente.
E daí?
Daí que clareza vende; confusão espanta.
Eu mesmo tropecei de novo há pouco tempo. Gravei um tutorial no Obsidian jurando que estava didático. Três “não entendi direito” como resposta e caiu a ficha: falei como se todo mundo soubesse o que é markdown.
Ego disfarçado de pressa.
Graças a Deus fiz alguns testes antes e deu tempo de editar. Vídeo refeito, inscrições recuperadas, lição aprendida.
Lendo o texto ontem eu pensei em três tropeços que te mantêm preso no looping dessa maldição:
Pressão pra parecer avançado. Você usa jargão pra provar autoridade. Parece esperto, mas soa distante. Quem te ouve só pensa: “Isso não é pra mim”.
Fobia de redundância. Repetir o básico parece perda de tempo, então você pula etapas. Só que sem fundação não há castelo — há entulho.
Falta de teste de rua. Você publica e parte pro próximo. Não mede se alguém realmente entendeu. A peça seguinte nasce com o mesmo defeito.
“Ok”, pensei eu, “como eu resolvo isso então?”.
Em 2015 eu ainda não conhecia esse conceito, mas aprendi alguns antídotos na base do teste:
Traduza pro seu eu de 5 anos atrás. Explica como se falasse com um “você” que ainda não entendia nada. Se esse fantasma do passado entende, qualquer iniciante entende.
Concretize cada conceito. “Sinergia operacional” vira “três equipes que conversam todo dia às 9 h por dez minutos”.
Rode o “teste da avó”. Conte sua ideia pra alguém fora da bolha — mãe, cônjuge, amigo de outra área. Se a pessoa repete com precisão, passou. Se enroscar, ajusta e tenta de novo.
Um antídoto bônus é explicar pra si mesmo escrevendo no seu aplicativo de anotações. Quando você aplica esses antídotos, suas notas deixam de ser seus hieróglifos particulares e viram material pronto pra virar reflexões, roteiro ou projeto.
Seu “eu do futuro” lê e faz “Ah, bom!”, em vez de “Que danado que eu quis dizer aqui?”.
Ideias claras viram construções. Ideias confusas ficam no papel.
Um exemplo claro é essa publicação ter sido gerada a partir de uma nota no meu Obsidian. Vi o termo, fiquei curioso, pesquisei, anotei, expandi o assunto, adicionei minha visão, conectei com outras notas e isso gerou um miniensaio claro, direto, facilmente entendido mesmo se eu ler daqui a 10 anos e que usei pra escrever isso aqui.
Depois eu só fiz adicionar um formato mais newsletterístico pra você não se cansar de ler e o resultado foi esse.
Eu mostro como fazer isso no curso Obsidian Criativo.
Um abraço,
rapha
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